O que definiu as últimas quatro eleições presidenciais foi a economia. Nesse ano de 2010, li muitos artigos dizendo que o povo brasileiro es...
O que definiu as últimas quatro eleições presidenciais foi a economia. Nesse ano de 2010, li muitos artigos dizendo que o povo brasileiro está mais consciente de suas posições políticas e que a mídia se daria mal ao tentar manipular informações e assim por diante. Prova disso seria a falta de eco do denuncismo midiático nas pesquisas.
De certo modo, em boa parte do mundo, o que determina a vitória numa eleição é o fator econômico. A crise econômica, em 2008, estourou nas mãos de Bush, o que permitiu eleger o candidato da oposição, Obama. Claro que a campanha realizada nas mídias sociais teve bastante eco, mas certamente não foi ela quem determinou o resultado. O povo norte-americano queria se ver livre da crise e Barack disse: "yes, we can".
No Brasil, o analfabetismo funcional de alguns políticos permitiu acreditar que a imitação da campanha de Obama nas mídias sociais seria vitoriosa. Erraram. Acreditou-se que o forte denuncismo de muitos factóides e poucos fatos faria a cabeça do povo mudar seu voto. Erraram novamente e tudo o que conseguiram foi sujar ainda mais a imagem política do país. O que mudou na estrutura política do Brasil?
Durante toda a campanha, quase nada se falou sobre projetos políticos. O debate que realmente interessaria ficou reduzido aos ataques e defesas pessoais. Isso é uma perda para quem acredita num futuro melhor e uma vitória para quem deseja que nada se altere num país de imensa desigualdade social.
Durante todo esse período eleitoral, candidatos de direita junto com a mídia millenium fizeram questão de exalar o cheiro de golpe. Nos bastidores da política, ao menos aqui no Rio de Janeiro, muitos intelectuais e ativistas sentiram o medo de um retrocesso democrático, ainda que por pouco tempo. Os ataques midiáticos foram tão vorazes que até pessoas de razão abandonaram a lógica momentaneamente e temeram um golpe. É quase certo que alguns setores da sociedade brasileira adorariam, mas é preciso de apoio internacional para que o absurdo se concretize. Nada é tão simples quanto parece.
Não consigo vislumbrar um projeto de país vitorioso sem a democratização da mídia no Brasil. Essa degeneração constante que se faz de valores é altamente prejudicial. Parte da população tupiniquim não crê na política: "são todos ladrões". Por isso prestam-se a votar em massa em candidatos aburdos para deputado federal e estadual. Para presidente, não vão arriscar perder o avanço econômico.
A mídia hegemônica não debate projetos sociais, não oferece espaço aos movimentos sociais, não prioriza a educação nem coloca assuntos em questão. Apenas acusa, denigre, mancha e finge ser imparcial. Sem repensarmos a mídia, será difícil conquistarmos qualquer autonomia e avanço.
Muito provável que a eleição presidencial seja definida em primeiro turno, mas o desgaste político e midiático no Brasil foi imenso. Pouco ou nada restará de credibilidade para os políticos e mídia hegemônica no país do carnaval.
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