Texto de autoria de Fábio Nogueira - estudante de história da Universidade Castelo Branco e militante da Educafro. E-mail: historiadorfabioucb.49@outlook.com
Era questão de tempo para a CLT (consolidação das leis do trabalho) ser sacramentada e enterrada de vez. Novembro consolidou a morte da carteira de trabalho.
Numa breve história, o Brasil foi pioneiro na criação de mecanismos de proteção à classe trabalhadora. Na metade da década de trinta, o presidente da República, Getúlio Vargas, atendeu a reivindicação de trabalhadores brasileiros desde o inicio do século XX. A carteira de trabalho torna-se símbolo de cidadania e dignidade. A dimensão desse simbolismo era tão importante ao trabalhador que ao ser parado pela policia sob suspeita de vadiagem, a pessoa exibia com orgulho a carteira de trabalho assinada.
Em nome da modernidade, a mídia dominante 'comprou' a ideia que patrões (não gosto da palavra empreendedor) e empregados poderiam sentar-se à mesa de negociação juntos, de igual para igual. Num país onde o pensamento escravista perpetua até os nossos dias, dominador negociar com dominado é o mesmo que assistir em novela no horário nobre, o latifundiário entrar em acordo com os que tomam terras devolutas. Adivinha quem saíra ganhando? Caso acredite em Estória da carochinha...
No discurso de posse como presidente, Fernando Henrique Cardoso afirmou com todas as letras que a Era Vargas tinha terminado seus dias. A luz da simbologia desse discurso foi acesa para quem entendeu o recado. O Estado mínimo formava corpo dali em diante. Semelhante ao esquartejador, as medidas de diminuir a presença do Estado em setores estratégicos, foram fundamentais para chegarmos ao desmonte do Estado nos dias atuais.
A fragilidade, os erros e as incertezas do segundo governo Dilma e finalmente o golpe parlamentar aceleram o processo neoliberal.
Sempre bato na mesma tecla em afirmar que a política de Estado mínimo, num país tão desigual é imoral e antiético.
A imobilização, a indiferença, a cumplicidade da mídia, movimentos reacionários e empresários inescrupulosos contemplam a tropa de apoio de desmonte e entrega e fim dos direitos ao bem-estar dos brasileiros.
Coincidentemente o mês de novembro marca o golpe da República e o fim do Império. O evento não só marca o início de um novo modo de governar o país: o golpe.
A República brasileira neutralizou a participação popular quanto a sua fundação. A reação do povo foi nula na época, e continuam perguntando o porquê da nossa indiferença em assistir de braços cruzados o desmantelamento.
A previsão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está sendo cumprida. Agora falta pouco para outras instituições que afetam diretamente a população sejam privatizadas de vez. Daqui a pouco, ter o direito à saúde, à educação e ao saneamento básico serão artigos de luxo.
*Dica de livro: Os bestializados. De José Murilo de Carvalho
(Via Fábio Nogueira)
VOCÊ é muito importante para nós: queremos ouvir sua voz. Deixe um comentário após 'Related Posts'. Apoie o #ComunicaTudo: clique nas publicidades ou contribua. Saiba mais através do email marceloaugustodamico@gmail.com
COMMENTS