Grandes ditadores chegaram ao poder devido às políticas de comunicação, satanizando algo ou algum grupo. Hitler calcou sua propaganda ...
Grandes ditadores chegaram ao
poder devido às políticas de comunicação, satanizando algo ou algum grupo.
Hitler calcou sua propaganda no juden
komplot (o complô judeu para dominação mundial) que culminou com as
políticas de segregação e com o holocausto. Os golpistas de 64 basearam sua
comunicação no ‘ouro de Moscow’, no perigo comunista e da ditadura ‘dos ateus
totalitários e comedores de criancinhas’ e iniciaram o banho de sangue e
loucura dos anos de chumbo. Nos EEUU, George W(ar) Bush manipulava os níveis de
alerta de ataque para induzir o medo aos cidadãos estadunidenses.
É plenamente correto afirmar
que o povo se reúne em torno do líder que aponta um culpado ou algo a ser
temido, o famoso bode expiatório ou objeto fóbico da teoria freudiana. Destaco
três autores que afirmaram isso: Psicologia
das Massas e Análise do Eu de Freud, Massa
e Poder de Elias Canetti, A Rebelião
das Massas de José Ortega y Gasset.
Trata-se da indumentária do
medo: seja pelo assustador, bizarro, escatológico ou mera curiosidade mórbida,
o ser humano vê coisas sabendo que irão causar medo. Na biografia de Ozzy
Osbourne tem uma passagem interessante, quando o madman explica o porquê do Black Sabbath adotar o heavy metal e as letras e arranjos
sombrios. Ozzy e os integrantes da banda perceberam que próximo ao local de
ensaios e de shows havia uma sala de cinema que só exibia filmes de terror.
Além disso, eles perceberam que a sala lotava mais que os shows da banda. Ora,
se as pessoas pagam para sentir medo, o Black Sabbath deveria oferecer o mesmo.
Mas e o Brasil?
No Brasil, os debates sobre
temas pertinentes à sociedade não devem ser encampados por movimentos sociais
em manifestações em Brasília, pois logo serão desacreditados e taxados com
algum rótulo.
Os temas devem partir (ou
atingir) da ‘aristocracia’, devem aparecer em novelas e no noticiário elitista:
desse modo o debate é mais ‘limpinho’.
Foi o caso do desarmamento,
onde inclusive foi organizada uma passeata no RJ com os personagens da novela
Mulheres Apaixonadas (em vez dos atores). Tempos depois, às vésperas do
referendo do desarmamento, Fernanda Lima foi a garota-propaganda
pró-desarmamento em “Bang Bang”. A novela era ambientada no faroeste, o enredo
era de filmes western e Fernanda Lima
interpretava uma cowgirl que não
usava armas (?) e desarmava os adversários com chutes e chaves de braço.
O caso Caffé e Friedenbach
(óbvio, não excluindo a gravidade e a barbárie) foi um crime cujo protagonista
escolhido pela mídia era menor de idade. Menos de uma semana depois de tanto os
‘formadores de opinião’ (o casal 45 também) bateram na mesma tecla, em Brasília
se discutia a redução da maioridade penal.
Mas, todos os dias quantas
pessoas que não são membros da classe média alta, morrem pelas mãos de menores
infratores e nem viram notícia?
Contudo, o ‘Massacre do
Realengo’ foi o ápice dos objetos fóbicos apontados pela mídia. Primeiro, os
‘especialistas’ de plantão culparam os árabes. Depois, foram os portadores de
Aids. Nenhum foi capaz de mencionar o Efeito Werther ou Copycat.
Outro fenômeno brasileiro é a relação
entre mídia X política X licitações. Por exemplo, sediaremos a Copa do Mundo e
Olimpíadas, um político poderá propor uma lei (só para aparecer) onde obriga
todos os prédios públicos a disporem de detectores de armas. A justificativa
será a segurança dos eventos. O precedente poderá ser o ‘Massacre do Realengo’,
pois ocorreu em uma escola pública.
Mas o embasbacante seria o resultado, como a proposta seria apresentada
às vésperas do evento, a licitação seria jogada no lixo porque “só uma empresa
será capaz de cumprir o prazo por rápida e notória especialização”.
A mídia brasileira sobrevive
apontando objetos fóbicos, cometendo ‘violência simbólica’ e induzindo medo à
sua audiência. Proponho uma reflexão, qual é o primeiro pensamento que vem à
sua cabeça:
Anotação na Margem:
- Violência
simbólica é um conceito de Pierre Bourdieu, criticado por Jürgen Habermas que
diz que violência equivale à agressão física, exterior ao simbólico. Mas a
crítica de Habermas se restringe ao ato físico, ignorando questões como bullying, preconceitos raciais e de
gênero;
- O Copycat ou Efeito Werther tem origem no romance de Goethe, Os Sofrimentos do
Jovem Werther.
- As manifestações em Wall Street, além de demorarem a surgir no noticiário, foram desacreditadas pelas organizações
Marinho.
Diego Pignones
Publicitário e pesquisador em
Comunicação Social.
Twitter:
@diegopignones
Tumblr: http://lavalanga.tumblr.com/
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