Texto de autoria de Fábio Nogueira - estudante de história da Universidade Castelo Branco e militante da Educafro. E-mail: historiadorfabioucb.49@outlook.com
No dia 11 de maio saiu nos noticiários uma festa no mais tradicional Hotel da cidade Fluminense, em comemoração aos cento e trinta anos da abolição negra. O que parecia a confraternização de todos por uma conquista feita por toda sociedade no século XIX, na verdade era um escárnio na cara dos principais envolvidos na festa. Um simples ingresso para ter o direito a todas as regalias custava nada mais e nada menos que a bagatela de mil e oitocentos reais. Pergunta: todos os pretos, principais protagonistas da noite comemorativa, foram ao evento?
https://vejario.abril.com.br/cidades/copacabana-palace-recebe-jantar-que-celebra-130-anos-da-abolicao/
Segundo o instituto que organizou o evento, o dinheiro arrecadado será revertido para a causa da igualdade racial.
O fim da escravidão, em treze de Maio de mil oitocentos e oitenta e oito, nunca será motivo para celebração e não estou propondo descartar esta data pelo vinte de novembro. Ambas nos servem para fazer reflexões de qual país queremos. Daquele país que quer ver o negro como mais uma voz na construção política social ou dos famosos e antigos livros de história, onde diziam que a importância do negro no Brasil era somente a feijoada e a capoeira? Se a opção for a segunda é sinal que talvez esteja sofrendo da chamada ignorância histórica. Tem cura? Claro, ainda bem. Há mais de uma década há a chamada lei 10.639/03 que obriga os estabelecimentos escolares públicos e particulares a falar da África e dos negros brasileiros.
Por quê? É fácil de explicar. Depois do dia treze de maio, a presença negra desaparece da história do Brasil como passe de mágica. Deixamos de existir. E este desaparecimento é em todos os sentidos que possamos imaginar. A república era recente no Brasil. Havia demandas de ex-escravos que de uma hora para outra foram entregues ao deus-dará. A população de ex-escravos era a maior, na ocasião da recente república brasileira. O que seria feito para conter tantos negros? Umas das soluções encontradas era a vinda do imigrante europeu, para ocupar os espaços deixados pelos ex-escravos. Foram feitas concessões de materiais de trabalho para que então o imigrante recomeçasse a vida em terras desconhecidas. É bom deixar claro que a vinda do imigrante europeu ao Brasil já estava acontecendo em menor escala. A partir do final do século XIX, a chamada desse imigrante ganha outras dimensões de cunho político e ideológico . É a chamada política de branqueamento.
Esta política via na miscigenação uma maneira de apagar de vez os vestígios do Brasil negro e indígena. Antes o que era visto como algo degradante e promíscuo, passou a ser a chave para assim clarear o Brasil. Não há romantismo neste conceito tão astuto. Além do fator físico, a questão cultural e policial estava dentro dessas ideias medonhas.
A verdadeira democracia racial se tornará realidade quando questionarmos o que era de fato os motivos da miscigenação racial brasileira. E assim poderemos ter direitos como qualquer outra pessoa.
O cientista João Batistas de Lacerda, era o maior entusiasta dessa política de não só desaparecer fisicamente da presença desses dois grupos (negros e indígenas) como também demonizar ambas as culturas, em especial a religiosa.
(Via Fábio Nogueira: estudante de história da Universidade Castelo Branco e militante da Educafro historiadorfabioucb.49@outlook.com)
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